segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Barriga

Não existe nada pior que "barriga", e não estou falando do resultado de seu sedentarismo, caro leitor (se é que alguém vá ler isso), estou falando do costume de roteiristas de alongar suas tramas até o limite do insuportável quando essas começam a fazer sucesso, inserem uns novos personagens ou colocam em destaque outros até então irrelevantes e destrói a paciência de quem está acompanhando novelas e seriados, quem acompanha seriados deve ter percebido que eles chegam a um ponto em que já poderiam ser encerrados, mas seus produtores continuam lançando novos fatos e situações que só servem para “encher linguiça” e interessam muito pouco. O fato é que a TV vive de dinheiro e se os produtores não possuem pudores em tirar do ar uma série com baixa audiência antes de dar um fim à trama, o mesmo se aplica a estender histórias que já não possuem mais nada a oferecer.

Temos inúmeras séries que poderiam ser listadas, mesmo o cultuado Lost vive de adicionar personagens a torto e direito e quando resolvem um mistério outros 10 são adicionados, o caso mais emblemático foi a inclusão do casal Nicky(Kiele Sanchez) e Paulo(Rodrigo Santoro) na ilha, apesar de ter mexido em nosso orgulho cívico ao colocar Santoro, um brasileiro, no cast do seriado não serviu para mais nada, ambos se mostraram sem importância e desconectados do contexto geral, talvez por terem chegado com o "bonde andando". É complicado pro telespectador estar acostumado com um grupo de pessoas e olhar para duas novas fazendo de conta que ela estavam lá o tempo todo como quiseram fazer parecer na série. Já diziam os manifestantes do Diretas Já, O povo não é bobo.

Outro caso é Prison Break, na primeira temporada temos a história de Michael Scofield (Wentworth Miller) que dá um jeito de ser preso para livrar o irmão de ir para a cadeira elétrica por um crime que não cometeu. Toda a temporada, inverossimilhanças a parte, se concentrava em seu plano de fuga e era interessante e divertido vê-lo sendo colocado em prática. Na segunda Temporada, Michael, o irmão e outros presos que ele teve que ir agregando a seu plano são mostrados percorrendo o país perseguidos pela justiça e por um cara do FBI tão astuto como o protagonista e que consegue prever muitos dos seus movimentos. Todo um clima de conspirações, perseguições e adrenalina contribuiu para que série se tornasse um sucesso, mas o mais óbvio é que depois que os irmãos conseguissem se livrar das acusações tivessem um final feliz junto com o que restou de sua família. Mas o sucesso do programa tornou obrigatória uma terceira temporada, já que tudo tinha se esgotado porque não colocar Michael na cadeia de novo? Mas trazê-lo de volta a antiga prisão não funcionaria, era fichinha, tinha que ser algo mais barra pesada. Deram então um jeito de colocá-lo junto com boa parte do elenco da temporada anterior em uma prisão de terceiro mundo, no caso o Panamá. Michael deveria ter assistido o seriado Blossom, em um episódio Joey (Joey Lawrence) comentando sobre o filme "Expresso da Meia Noite" diz que se você quer cometer um crime não pode escolher a Turquia já que lá as pessoas são más. Se ele tivesse visto saberia que isso se aplica a todos os países de terceiro mundo, pelo menos na visão dos roteiristas de cinema e televisão em Hollywood. Na nova prisão a lei não existe você tem que matar um leão por dia para sobreviver e mesmo os presos sendo deixados ao Deus dará não existe possibilidade quase nenhuma de fuga, e da- lhe repetições de situações da primeira temporada, saturação de clichês, simplesmente deixamos de nos importar com os personagens de tão previsível.

Nem as séries dramáticas escapam dessa armadilha, "A Sete Palmos", sobre uma família que cuida de uma funerária e vive seus dramas do dia-a-dia enquanto cuidam de velórios e embalsamamentos teve uma terceira temporada mais arrastada que novela e ainda inseriu uma nova personagem que era um "purgante", a insuportável Lisa (Lili Taylor).

Também é importante saber que isso não é fato recente já que na década de 70 adicionaram um personagem chamado Primo Oliver em uma série de sucesso para poder ter mais argumentos. Erro fatal, pois caiu a audiência e o seriado foi cancelado. Daí em diante "Cousin Oliver" passou a ser referência de personagem adicionado no meio da história. Ainda tivemos Dallas, série famosa dos anos 80 e que vivia ressuscitando personagens e adicionando novos à medida que a audiência oscilava, tiveram a audácia de transformar uma temporada inteira em sonho de uma personagem só para justificar o retorno do marido dela que tinha morrido na temporada anterior. E por fim a ótima série Twin Peaks de 1989, que tinha como mote a pergunta "Quem Matou Laura Palmer?". Resolvido esse mistério algum gênio achou por bem estende-la já que fazia muito sucesso, só que o criador da série, David Lynch, se afastou para dirigir um filme e os novos diretores e roteiristas acharam que transformar tudo em uma chanchada sem pé nem cabeça bastaria para segurar os telespectadores, basta dizer que o triângulo amoroso cômico entre a recepcionista da delegacia, um guarda e um atendente de loja passou a ser uma das principais tramas da série. Como era de se prever, a audiência caiu e quando Lynch retornou, o estrago era muito grande para ser consertado. Dizem que inclusive alguns dos atores se recusaram a participar no filme que servia de prequel a série exatamente pelo descaso do diretor com sua obra.

Claro que certa irregularidade em séries é normal pelo fato de ter diferentes diretores e roteiristas trabalhando em cada episódio, o problema é quando a série se desestrutura e deixa de ficar interessante, pior ainda quando perde o foco de seu eixo principal, muitas vezes chega ao final apenas um fiapo do que a série prometia, e pro telespectador fica aquela incerteza, se a série não fizer sucesso corre o risco de cancelarem antes de qualquer solução dos mistérios e se do contrário fizer muito sucesso podem começar a enrolar até tirar a vontade de ligar a TV no horário para ver os próximos episódios.

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