sábado, 15 de agosto de 2009

Arraste-me Para o Inferno e um pouco de corporativismo.

Sam Reimi, diretor da trilogia (até o momento, já que estão planejando o 4º filme) Homem Aranha, lançou em 1982 "A Morte do Demônio” * (Evil Dead) um marco do cinema de terror que está na lista dos melhores de qualquer fã do gênero, mesmo entre os mais exigentes. Pois foi uma grata surpresa descobrir que ele havia resolvido voltar ao gênero que o revelou, mesmo ficando com medo de que sua experiência com blockbuster o tivesse deixado muito apegado ao CGI e pirotecnias técnicas e o retorno ao terror pudesse nos trazer uma “bomba”. Felizmente eu estava errado, Arraste-me Para o inferno (Drag me to Hell, 2009) é uma pequena pérola e provavelmente um dos melhores filmes de terror que vi esse ano, parecia que tinha voltado aos anos 80, um filme cheio de sangue e escatologia e que não poupa a protagonista de passar pelas maiores agruras durante toda sua execução, coisas simples como ir ao fundo de um tumulo cheio de água junto a um defunto. Alison Lohman é Chris, uma funcionária de banco que para mostrar ao seu gerente que merece uma promoção recusa estender a dívida de Sylvia Ganush, uma velhinha que está para ser despejada, a idosa, insatisfeitae se sentindo humilhada, joga uma maldição na garota que começa a ser perseguida por um demônio, a pobre moça passa então a correr contra o tempo já que o coisa-ruim irá arrastá-la para o inferno em 3 dias se o feitiço não for desfeito. Reimi nos brinda com cenas de fazer os mais fracos dormirem com a luz ligada e os de estomago frágil devolverem todo o fast-food que serviu de refeição antes da seção. Claro que o filme não se resume a um amontoado de cenas toscas e nojentas, tem um clima tenso, atuações boas e para quem gosta de conteúdo tem até uma critica sutil a competição nas empresas, a ambição desmedida e a recente crise imobiliária. Eu que já estou calejado com filmes de terror passei alguns sustos de verdade na sala de cinema, prova que Reimi não perdeu a mão e sabe que mesmo nesses tempos de internet, nada mais eficaz que um bom horror a moda antiga com efeitos digitais discretos, maquiagens grotescas, cenas de embrulhar o estomago e uma piadinha aqui e ali para quebrar o clima. O Bom elenco é composto por além de Alison, que não tem nenhum trabalho conhecido em fitas de horror mas já trabalhou com diretores como Robert Zemeckis, Tim Burton e Ridley Scott, Justin Long que trabalhou nos dois filmes “Olhos Famintos” como o namorado de Chris, que a apóia mas tenta convencê-la de que isso tudo não é real.Temos ainda Lorna Raver, atriz basicamente de TV como a assustadora Sylvia Ganush. Adriana Barraza, atriz mexicana indicada ao Oscar por Babel de Alejandro Gonzáles Inãrrítu e que trabalhou também em “Amores Brutos” do mesmo diretor aqui faz uma vidente que tenta ajudar a mocinha e Reggie Lee, vilão da segunda temporada da série “Prison Break, é o colega de trabalho de Chris que não se importa em jogar sujo para conquistar a promoção no lugar dela. Mas e o corporativismo do titulo? Pois é, é que como a protagonista do filme também sou bancário e faz muito tempo percebi que nossa classe nunca é muito bem vista em filmes e outras obras, médicos, jornalistas, operários, lavradores e até advogados já tiveram suas oportunidades tanto como vilões quanto como mocinhos, antes da personagem de Alisson Lohman em “Arraste-me Para o Inferno”, o único herói que conheço que trabalhe em banco é Stanley Ipkiss (Jim Carrey) de "O Máscara" e ele pode ser considerado mais um anti-herói. No geral bancários são mostrados como pessoas insensíveis, burocráticas e fracassadas que escolheu essa profissão por pura falta de opções. Se as intempéries de Chris em "Arraste-me Para o Inferno" mostra um pouco de como é o ambiente em instituições financeiras talvez também sirva como vingança para muitos telespectadores que já sofreram em uma fila de banco. A classe dos bancários sofre por representar uma instituição muito mal vista, enquanto os banqueiros, donos do dinheiro e do poder são resguardados em suas salas de mármore e vidro, funcionários do baixo escalão agüentam baixo salário (um funcionário em inicio de carreira ganha na faixa de R$ 1000/mês, os maiores bancos brasileiros costumam ter lucros de bilhões de reais por semestre), metas abusivas, doenças ocupacionais, necessidade de empurrar seguro, previdência e capitalização para clientes já endividados e insatisfeitos com o atendimento, plano de carreira ruim, stress, falta de tempo para se preparar para coisas melhores e ainda servem de portadores de más noticias para o cliente (seu limite estourou, seu cartão está bloqueado, seu crédito não foi aprovado). Só para encerrar quero deixar claro que não estou aqui levantando bandeira, não vou começar a fazer abaixo assinado para que os bancários sejam bem vistos em filme até porque sei que mesmo que não sejam a maioria existem muitos profissionais da área que fazem jus a representação feita. Só quis fazer uma constatação e desabafar aproveitando o gancho do ótimo filme do Sam Reimi. Todos que puderem corram ao cinema o mais rápido possível para ver a obra. * O filme “The Evil Dead recebeu vários títulos por aqui, isso porque a seqüência estreou primeiro aqui no Brasil com o título de "Uma Noite Alucinante- Morto ao Amanhecer", só depois resolveram lançar o filme original nos cinemas o intitulando como “Uma Noite Alucinante – Parte 1 – Onde Tudo Começou” mas quando lançado em vídeo mudaram o nome para "A Morte do Demônio", em DVD o primeiro filme(péssima edição da LW editora, diga-se de passagem) foi lançado com o título de "The Evil Dead" e a seqüência como "Uma Noite Alucinante", o terceiro filme da franquia, Army of Darkness: Evil Dead 3 foi lançado em vídeo como Uma Noite Alucinante 2 e não tem, ainda, edição em DVD. (Com informações do site Boca do inferno.)

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