sábado, 3 de abril de 2010

Intolerância Religiosa

A atitude dos jogadores dos Santos que por motivos religiosos se recusaram a visitar um lar espírita que cuida de crianças com paralisia cerebral revela uma realidade preocupante, o preconceito com respeito à religião não é relegado a um passado obscuro ou a países intolerantes do Oriente Médio. O Brasil ainda tem mais que resquício desse pensamento retrograda, se o chute a imagem de Nossa Senhora Aparecida que o bispo Von Helder deu em 1995 deixou a sociedade embasbacada ninguém se escandaliza com a demonização de religiões africanas feita por programas religiosos principalmente da Rede Record, pertencente à Igreja Universal do Reino de Deus.

É curioso que um país com nomes que defendem o ecumenismo com tanta propriedade como Leonardo Boff tenhamos casos tão gritantes de intolerância. Robinho, Neymar, Ganso e Roberto Brum pelo jeito não frequentaram todas as aulas da escola dominical ou teriam conhecimento sobre a parábola do bom samaritano, aquela em que Jesus conta a história de um cara que resolve ajudar um pobre coitado que foi assaltado sem perguntar sua procedência e sem esperar nada de volta com isso, no final Jesus decreta que devemos "... amar ao próximo como a si mesmo...”. Será que para eles essas crianças não eram suas próximas por serem supostamente de outra religião.

O colunista Cosme Rimoli do site R7(que pertence a Universal, coincidência?) ainda tentou limpar a barra deles os colocando como mártires revolucionários que quebram uma tradição de hipocrisia, e se enrolou misturando alhos e bugalhos e colocando o goleiro Marcos do Palmeiras no meio do rolo no que foi ironizado pelo assessor de imprensa do time palestrino. Cosme escreveu a pérola rara:

"Como não perceber a alegria que um goleiro com o talento e o coração de Marcos pode levar a uma criança terminal? /Mas por que fazer desse encontro um show para a mídia? /Quem ganha com isso? /E em seguida, o milagre não acontece, e essa criança morre.”

No que o assessor respondeu no site oficial do Palmeiras:

"Bom, não quero aqui supor que você ache desnecessário esses encontros porque a criança não vai viver. Me nego a crer nisso."

Na ânsia em defender os jogadores, por motivos desconhecidos, mas não muito difíceis de imaginar quais são o jornalista não se importou em desmanchar sua credibilidade e saiu atacando assessores de imprensa de clubes de futebol.

Os jogadores se justificaram, alguns talvez até tenham se arrependido de coração, mas esse acontecimento emblemático fica como um aviso dos riscos a estamos submetidos com pessoas que seguem cegamente dogmas e princípios religiosos. Como diz o personagem Dean (Jensen Ackles) em um episódio do seriado Sobrenatural (Supernatural): Deus nos proteja daqueles que acham fazer o Seu trabalho aqui na Terra.

domingo, 3 de janeiro de 2010

A Vergonha de Casoy e a Invisibilidade Social

Para comemorar o ano novo passei o último fim de semana em uma fazenda sem ver TV e sem acesso a internet, acabei sabendo só hoje da polêmica envolvendo Boris Casoy, âncora famoso pela utilização do bordão "Isso é uma Vergonha" e por criminalizar movimentos sociais e a esquerda em geral, e que segundo comentam já esteve envolvido com o CCC (Comando de Caça aos Comunistas). Após o Jornal da Band veicular uma matéria sobre garis em que no final esses desejam feliz natal, Casoy ironizou os votos com o seguinte comentário:

"Que merda: dois lixeiros desejando felicidades do alto da suas vassouras. O mais baixo na escala do trabalho".

Claro que ele não disse isso diretamente para as câmeras, mas em off, porém o áudio vazou enquanto passava a vinheta e todos ouviram o comentário preconceituoso seguido por gritos desesperados provavelmente do responsável pelo som: "Deu pau, deu pau, deu pau..."

No dia seguinte Casoy ainda tentou "pedir desculpas profundas pelo comentário infeliz” (sic), mas o estrago já estava feito, nesse tempo de internet é difícil colocar no esquecimento um comentário como esse como aconteceu com o "coisa de viado" que o Pedro Bial comentou no Fantástico após a transmissão de uma noticia sobre balés, quando muito tempo depois esse vídeo caiu na internet o barulho já tinha sido abafado, no caso de Casoy praticamente no mesmo dia isso já era assunto e ninguém falava em outra coisa, o vídeo no Youtube fez sucesso e quase todo mundo comentou no Twitter.

Casoy explicitou algo que nós brasileiros temos dificuldades em reconhecer, o preconceito social, assim como o racial ainda existe, conheço pessoas que se incomodam em morar em um prédio que não tenha elevador social, que acha que festa de empresa tem que ser separada e que um garçom não deve nunca fazer um comentário para as pessoas da mesa que não seja "o que deseja" ou "bom apetite". É difícil reconhecermos que não somos o país que respeita a diversidade, o país em que pobres, ricos, negros e brancos convivem em total sintonia.

No fundo todos Querem que os pobres apenas façam seu trabalho e se mantenham na sua só se dirijam aos demais quando forem perguntar algo útil relacionado ao trabalho. No livro "Homens Invisíveis - Relatos de uma Humilhação Social” (Editora Globo, 2008) o psicólogo Fernando Braga da Costa que conviveu 10 anos com os garis da Cidade Universitária da USP, trabalhando junto deles e uniformizado como eles relata como esses trabalhadores são humilhados por aqueles que têm que lhes dar as ordens e como são ignorados pelos demais como se fossem invisíveis, como se não fossem pessoas mas apenas a parte feia da decoração da cidade que não merece nada mais que o desprezo. Fernando sentiu na pele toda a labuta dos garis, mexendo em lixo tóxico sem utilização de máscara ou roupa especial, varrendo debaixo de chuva ou sol, aguentando humilhações e enfrentando o desaparecimento proporcionado pelo uniforme, o próprio autor deixava de ser percebido por alguns amigos e professores quando utizava a roupa própriados trabalhadores.

Infelizmente casos como o de Casoy não são raridade nesse país, essas pessoas da "mais baixa escala de trabalho" precisam aguentar todos os dias esse tipo de insulto, além de sofrer com baixos salários e falta de perspectivas. Imagine um desses sujeitos animado por aparecer na TV, chega em casa e chama família e amigos para assistir o telejornal, compra uma cerveja e reúne todos na sala apertada e quando finalmente se encerra a reportagem tem a decepção de ouvir esse comentário esnobe. Em Homens invisíveis Fernando relata o quanto ficou magoado quando uma garota pré-adolescente ironizou um dos garis que trabalhavam com ele. O quanto se sentiu mal pensando em um senhor que sai de casa para fazer o seu trabalho pesado e ainda tem que suportar piadas de uma criança cruel e grosseira, o mesmo deve ter acontecido a esses garis e a Rede Bandeirantes não pode deixar isso assim. Demissão é o mínimo para o reacionário do Casoy.

Desculpem o desabafo.