quinta-feira, 24 de abril de 2008

Deixem a Isabella descansar de vez

Você liga a TV de manhã e o Renato Machado está anunciando que a tia de Isabella disse em depoimento que não mexeu na cena do crime, daí você pega o carro para ir ao trabalho, liga na CBN para saber como está o trânsito e lá está o Heródoto Barbeiro contando sobre a mancha de sangue que apareceu na casa da prima da vizinha da irmã do Alexandre Nardoni, chega ao trabalho e vai ler seus e-mails e na primeira página do Yahoo aparece fotos da mãe da Isabella na missa do Padre Marcelo Rossi e conhecendo o camarim da Xuxa. Hora do almoço: o cara da mesa ao lado comenta sobre o cinismo do pai e da madrasta na entrevista pro Fantástico e não deixa de dar sua opinião sobre qual pena acha que deveria ser dada àqueles "monstros” (sic). Na volta do trabalho, para não ouvir o Nonato repetindo a notícia do Heródoto, você sintoniza na Band News e o locutor está falando sobre a reconstituição que está marcada pro próximo domingo. Finalmente em casa é ligar a TV ou conectar na internet e ter mais notícias sobre a menina que caiu do prédio.

Um país tão pacifico e sem problemas como o Brasil realmente tem que parar quando acontece um assassinato tão brutal, eu creio que se tivéssemos favelas, pessoas sendo atingidas com balas perdidas e crianças morrendo de fome aí sim iríamos falar de outro assunto mas todos sabemos que vivemos em um paraíso e quando acontece algo dessa envergadura temos que ficar indignados, fazer passeatas pela paz e encher páginas de jornais. Os jornais sempre fazem estardalhaço quando esses crimes ocorrem com os Nardonis, Richtoffens, Dell' Isollas, Friedenbachs, Otas, pessoas com sobrenomes simples e comuns que contemplam a maioria da sociedade brasileira. Se não aparece nenhum Silva ou Oliveira é porque esses sobrenomes são raros e possivelmente essas pessoas não têm passado por traumas semelhantes. Que interesse tem a história de uma mãe que matou os dois filhos negros e de classe pobre com uma moto serra no interior de São Paulo quando temos uma criança branca, de classe média alta e da capital assassinada pelo pai e pela madrasta.

Eu não vejo a hora de encerrarem logo esse caso e voltarmos a ser a terra dos sonhos que sempre fomos.

segunda-feira, 7 de abril de 2008

Caso Daniella Perez

Caso Daniella Perez

Revi no Youtube o Globo Repórter sobre o caso Daniella Perez, na época eu já tinha visto, mas desta vez pude ver com um olhar mais critico que o de pré-adolescente indignado. De inicio temos uma reportagem sobre outras mulheres que sofreram agressões graves ou foram assassinadas por maridos e namorados, o que é um ponto positivo do programa lembrar que esse tipo de coisa está acontecendo todo dia, enquanto todos só conseguem ver o caso da atriz que foi assassinada.

No segundo bloco é que começa o horror, se anteriormente tivemos Isabela Assunção com uma reportagem bem sóbria, agora temos Marcelo Resende em sua fase pré Linha Direta, mas já com o tom sensacionalista do programa. Com pré julgamentos e fases de efeitos Marcelo já tem certeza que Guilherme de Pádua fez tudo por ser um psicopata frio e calculista, e chamando atenção para a mediocridade do ator parece querer mostrar que Guilherme agiu unicamente por inveja. Ao apresentar a versão da defesa e da acusação ele não se constrange em mostrar a segunda como a verdade final e a primeira como um delírio de uma pessoa desesperada para não ser condenada. Onde está a imparcialidade? Onde estão os questionamentos? O que a Daniella Perez fazia com seis mil dólares na bolsa? O que a levou a sair do carro? E os bilhetinhos do ator a vitima, de que se tratavam? Tudo ficou mal explicado ou sem explicação.

Marcelo pega três blocos inteiros com suas acusações e então na quinta parte temos uma surpresa, o hoje critico do que ele chama de PIG (Partido da Imprensa Golpista, que inclui a Globo), Paulo Henrique Amorim fala sobre a repercussão internacional do caso, nada estranho pois ele trabalhava na Globo na época e era seu correspondente internacional, mas precisava defender a pena de morte de forma tão descarada? Dizer que os Estados Unidos estão mais bem preparados para lidar com essas situações parece piada, não seria isso uma das manipulações que ele tanto critica em seus blogs?

Finalmente Ilze Scamparini, mais discreta se limitando a entrevistar as pessoas , mostra a carreira da atriz e as pessoas que conviveram com ela. A cultura popular diz que todos viram santos depois que morrem e como a Globo queria aumentar ainda mais o horror das pessoas com o crime eles não pouparam declarações que marcavam sua doçura, esforço e seus pontos positivos, exceção ao pai da atriz que não deixou de enfatizar que ela cresceu muito mimada e tinha todos os defeitos de criança mimada. Pior de tudo é a insistência em mostrá-la como uma atriz de peso que o Brasil adorava, sendo que a maioria das pessoas só foram prestar atenção nela após sua morte. Daniella havia feito alguns papeis, mas nada de muito memorável, na Globo fez Barriga de Aluguel, O Dono do Mundo e a própria De Corpo e Alma além de figuração em Kananga do Japão na Manchete, levando em conta que ela tinha um digamos assim "pistolão" não dá para ficar a colocando como a atriz batalhadora que vinha construindo uma carreira brilhante.

Para finalizar o programa temos as palavras da mãe Glória Perez sempre com aquela fisionomia cansada de quem leva toda dor do mundo nas costas, até hoje ela parece querer nos obrigar a lembrar todo dia de seu sofrimento com esse caso e suas novelas chatas com enorme apelo popular parecem ajudá-la nessa missão.

Por fim, o crime foi brutal e os assassinos mereceram a condenação que tiveram, fosse a Glória Perez quem decidisse a lei deveria abrir exceção pra esse caso e os assassinos serem presos em uma masmorra e a chave jogada fora, ela como mãe pode prestar a esse tipo de desabao, porém é de se questionar todo esse sensacionalismo do noticiário, tantas pessoas morrendo em hospitais e tantas pessoas sofrendo no mundo e a Globo escolhe alguém por quem o Brasil deveria chorar, alguém que morreu como tantas outras pessoas que estão até hoje injustiçadas. Claro que por ser uma pessoa (razoavelmente) conhecida seria natural a repercussão do caso, mas custa fazer uma reportagem sem manipular as emoções das pessoas? Fica o questionamento.

Para quem quiser ver o vídeo do programa no Youtube.
http://www.youtube.com/watch?v=bJ5LojEBnPM&feature=related
http://www.youtube.com/watch?v=IUyBVLqxaYY&feature=related
http://www.youtube.com/watch?v=HYTvgif08Sg&feature=related
http://www.youtube.com/watch?v=ojKozUFUOCs&feature=related
http://www.youtube.com/watch?v=jVDnvZpt-GA&feature=related
http://www.youtube.com/watch?v=c0dsOsaDt7k&feature=related
http://www.youtube.com/watch?v=vfFyoT5Qgt4&feature=related