domingo, 27 de julho de 2008

Cinderela Baiana

Carla Perez apareceu para o cenário nacional dançando no grupo Gera Samba, um grupo que não parecia ser nada mais do que mais um das centenas que a Bahia produz todo ano pros carnavais, e não era mesmo, porém a indústria fonográfica vendo cheiro de dinheiro resolveu trazer alguns desses grupos para as luzes da ribalta e nessa época a TV foi invadida por grupos como Companhia do Pagode, Gera Samba entre outros. O forte dessas bandas eram músicas descartáveis e erotizantes geralmente com duplo sentido como "Boquinha da Garrafa", "É o Tchan", "Dança do Bumbum" e por aí vai. Além dos “cantores” eram compostos sempre por dançarinas de shorts minúsculos e Carla Perez era apenas mais uma delas que sabe se lá por qual motivo foi alçada a condição de "estrela". Se destacando mais do que o restante do grupo resolveu sair para tentar a sorte em outras empreitadas, não sem antes o grupo promover um concurso para a escolha da nova loira do Tchan em rede nacional no programa do Faustão.

Ela até conseguiu emplacar um ou outro projeto, um deles foi um programa de televisão onde disse que escola se escrevia com i, mas seu mais inusitado trabalho foi protagonizar um filme que entrou para os anais da produção nacional, sabe se lá quem foi o esperto que achou que ela podia atuar no cinema e convocou o diretor Conrado Sanchez para dirigi-la, diretor com um currículo invejável diga se de passagem, sua página do IMDB parece mais uma folha corrida de delegacia com títulos como "A menina e o Cavalo", "A menina e o estuprador" e "Como afogar o ganso". Sobre o filme, intitulado Cinderela Baiana, conta a história de uma garota pobre do sertão cujo pai muda pra Salvador para trabalhar em um escritório de contabilidade. O filme se divide em duas fases, a primeira lembra um "Vidas Secas" mal dirigido ou um "Dois Filhos de Francisco" com orçamento menor, que me desculpem os responsáveis por esses filmes pela comparação. Acompanhamos a infância da garota correndo atrás para ganhar uns trocados tapando buracos pros motoristas na estrada, sua mãe está doente e seu pai tem que ir pra cidade trabalhar, ela adora dançar e não pode ouvir uma música que começa a requebrar, mas ainda tem que ajudar a mãe a tentar conseguir esmolas para comer. A cena mais dramática (ou pelo menos é o que tentaram passar) se dá quando a mãe tem a pá destruída por um garoto maldoso e grita um não sentido que ecoa por toda a cidade. Sabe se lá se por isso ou por qual motivo que o filme não explica logo depois o pai chega em casa e encontra o velório da mãe. Diante do corpo da mulher ele jura que fará da garota alguém de quem ela irá se orgulhar, será que ela teria orgulho de ver a filha posando pra Playboy e mostrando a Bunda em rede nacional?

Daí o filme entra em sua segunda fase, quando já na cidade e crescida Carla mora em uma favela com casas de pau a pique e seu pai está se dando bem no emprego, aliás, ele só pode ser um exemplo de que quem luta consegue chegar lá já que começa como continuo e termina o filme como dono do escritório de Contabilidade, nessa segunda fase aparecem os dois únicos atores conhecidos do filme e talvez os dois únicos que possam levar o nome de atores já que a interpretação dos demais parece teatrinho de colégio, Perry Sales que provavelmente estava em decadência e precisando pagar o aluguel faz o empresário picareta que descobre a menina. E pensar que o cara já fez novelas na Globo e foi casado com Vera Fischer em tempos melhores. O outro ator conhecido é Lazaro Ramos que estava em inicio de carreira, quando trabalhar em cinema sério e na Vênus Platinada devia ser apenas mais um sonho. Ele faz o malandro boa praça que ajuda a garota quando ela mais precisava, lembra até de leve seu personagem mais famoso, Foguinho da novela "Cobras e Lagartos”. Claro que hoje em dia deve corar quando comentam sobre esse trabalho. O filme ainda conta com Alexandre Pires, do grupo Só pra Contrariar, na época namorado da dançarina, o pagodeiro totalmente sem naturalidade ainda protagoniza uma das cenas de luta mais falsas que já vi, mas para quem já cantou e chorou de emoção diante de George W. Bush esse filme é uma vergonha menor.

Mostrando uma Bahia onde todo lugar só tem rodas de dança, capoeira e Macumba o filme parece um grande clip, e não posso dizer que é o pior filme nacional porque Xuxa e Didi costumam produzir porcarias no mesmo nível, o problema é que esses dois já possuem um tempo de estrada e ela era apenas mais um desses sucessos de verão com data de validade limitada, tanto que hoje em dia já está indo pro limbo do esquecimento, se tornou apenas mais uma participante de programas de domingo à tarde.