sábado, 17 de maio de 2008

Bulliyng

Carrie, A Estranha, filme que revi hoje deveria ser louvado tanto por ser um excelente filme de terror quanto por tratar de um assunto que talvez devesse uma maior atenção da mídia, o buliyng que, para quem não sabe, são agressões físicas e psicológicas que algumas crianças impõem a outras por algum motivo que torna os segundos diferentes dos primeiros, as agressões podem ser por diversos motivos, a criança ser mais fraca, mais gorda, mais feia, usar óculos ou aparelhos ortodônticos, ter alguma deficiência física entre outros. O caso é sério e pode estar entre os motivadores dos massacres ocorridos em escolas americanas como o que ocorreu em Columbine, enquanto Hollywood parece querer vender a imagem de que os tempos de escola são anos dourados para todos os alunos, sempre é bom lembrar daqueles que passam o primário e o colegial como excluídos.

Falo por experiência própria, sempre fui um menino fraco e raquítico, e estudava em uma escola tipicamente suburbana com garotos de todo tipo, tenho um ex- colega que até matou uma garota alguns anos depois, sofri todo tipo de humilhação e apanhei muito, pois nunca fui muito bom em defesa pessoal, na época tinha vontade de ter poderes para poder me vingar de um por um como fez a Carrie, como Deus não me deu o dom da telecinese acabei não podendo por meus planos em prática, também já tive ganas de matar um garoto que me provocou certa vez, até planejei como faria para envenenar seu lanche, por sorte eu nunca fui um garoto de muita ação, sempre protelei as coisas e isso salvou a vida do rapaz já que com o tempo a raiva passava e eu acabava deixando pra lá. O fato é que nenhuma criança desperdiça a oportunidade de poder abusar dos mais fracos, até eu nunca me constrangi em passar de vitima a algoz quando tinha oportunidade de humilhar os poucos que eram ainda mais fracos que eu, e esses também abusavam quando traziam primos e irmãos para se vingar, tudo corria em um circulo vicioso.

No fim o que parece ser uma bobagem que deve ser cuidado entre os próprios garotos pode trazer seqüelas muitas vezes irreversíveis, tanto para vitimas quanto para “carrascos”. Os primeiros podem crescer com complexo de inferioridade e necessidade de aceitação que os torna adultos limitados e pouco críticos, se isso não parece ser grandes coisas em alguns casos mais graves podem cair em depressão, cometer suicídio ou materializar algum desejo de vingança que dificilmente se dá da forma idealizada e até divertida que vemos em filmes adolescentes. Entre os ditos “carrascos” creio que assassinato de índios, espancamento de empregadas e agressões a travestis podem servir de exemplo do que essas pessoas podem fazer quando se tornarem adultas. Hoje em dia já tenho um relacionamento normal com a maioria dos que me tiranizavam na época, porém sei que não são todas as crianças que conseguem amadurecer o bastante para passar essa página de sua vida e isso pode ter conseqüências trágicas. Mesmo não guardando grandes mágoas sei que muito da minha personalidade está intimamente ligado a esse passado, a dificuldade em olhar nos olhos das pessoas, a necessidade de ser aceito, desconfiança das verdadeiras intenções de quem se aproxima querendo ser meu amigo e individualismo são algumas das características que ganhei de herança disso.


Alguns filmes interessantes sobre o assunto:

Carrie – A Estranha de Brian de Palma-Tendo sido o motivador para o desenvolvimento desse texto o filme(baseado em um romance de Stephen King) mostra uma garota que possue poderes paranormais, ela até tenta se encaixar na turma, mas as garotas a excluem e o fato de viver com uma mãe fanática religiosa não ajuda muito. Depois de ser humilhada no baile da escola ela acaba matando a todos que estão no salão. Extremista? Talvez. Mas não tenho como mentir que sinto certo prazer em vê-la fazendo o carro do John Travolta e sua namorada(autores da armação contra Carrie) dar várias voltas e explodir logo a frente.

Elefante de Gus Van Sant - Inspirado nos muito comuns massacres em escolas norte americanas esse filme mostra de forma quase documental um dia de vários estudantes em uma escola que seria em breve vitima de um desses ataques que tanta comoção causam. Sem julgamentos o diretor vai mostrando todos os personagens, inclusive os assassinos (nerds que vivem sendo atormentados por outros colegas), e deixa livre para cada um tirar suas conclusões sobre o que aconteceu. A cena do Freezer também me deixou um pouco com a alma lavada.

Bem vindo à casa de Bonecas – de Todd Solondz. Um filme difícil de ser encontrado, nunca foi lançado em DVD por aqui e eu só vi há muitos anos atrás na madrugada da Globo. Basicamente, mostra a vida de uma garota feia e desajeitada que é humilhada por todos e que tem como único amigo outro garoto que também é desprezado na escola, os dois não se preocupam em humilhar um ao outro sempre que têm oportunidade. O filme não é engraçado como pode parecer, é na verdade bem ácido como todos os filmes de Solondz e não se importa em mostrar que crianças dificilmente são fofinhas e sociáveis como nos filmes, na verdade elas são bem cruéis.

Um comentário:

Bic Muller disse...

muito interessante esse texto.
você é jornalista??