terça-feira, 17 de dezembro de 2013

Romário e a identidade de gênero.


 

O Deputado Federal Romário demonstrou que sua visão sobre identidade de gênero é bastante retrógrada, ao ser flagrado de mãos dadas com uma transexual, o ex- jogador escreveu em uma rede social que “gosta é de mulher”, prestando um desserviço à causa LGBT. Mesmo se dizendo amigo e camarada da pessoa em questão, Romário se mostrou extremamente preconceituoso com a garota e ainda fez piada dizendo que “certeza, casamento não sairá", esse tipo de comentário partindo de um “representante do povo” é totalmente inapropriado.
O Brasil é um dos países em que a classe LGBT sofre mais perseguições, com vários direitos negados pode se dizer que seus componentes são tratados praticamente como cidadãos de segunda classe.  Leis que visam amparar, proteger e conceder direitos a esse grupo de pessoas têm votação adiada ou são engavetadas no congresso o tempo todo, inclusive com a Presidenta Dilma Rousseff vetando um kit produzido pelo Ministério da educação e que se destinava a combater a homofobia nas escolas e utilizando a justificativa de que seu governo não fazia propaganda de opção sexual (SIC) , declaração que foi um golpe para o movimento, principalmente pelo termo utilizado que relega a orientação sexual a uma simples escolha do indivíduo. Parlamentares como Jean Willys e Erika Kokay que defendem a causa LGBT são ofuscados pelo fortalecimento da famigerada bancada evangélica que dizendo defender os valores da família atacam deliberadamente qualquer projeto que beneficie de alguma forma os homossexuais e chantageiam o executivo e o legislativo, ameaçando retirar apoio político caso esses projetam sejam aprovados. Tudo isso ainda foi agravado com a eleição para a presidência da Comissão de Direitos Humanos de um pastor evangélico com histórico de perseguições homofóbicas.

O pior nessa declaração de Romário é o fato de que entre os indivíduos que compõem o segmento de formação da sigla LGBT, os que se encaixam na letra T, ou seja, transgêneros, pessoas que não se identificam com seu sexo biológico, como a suposta amiga do deputado, são os de maior fragilidade social. Não consegui localizar dados brasileiros, mas pesquisa americana de 2010 indicou que 41% dos transgêneros naquele país já haviam tentado suicídio , a não aceitação de si próprio é resultado entre outros fatores dessa visão estereotipada que a sociedade tem dessas pessoas, o escárnio e a humilhação que lhe são imputadas a todo o momento. O Brasil não deve se encontrar muito longe desse quadro, isso se não estiver em situação pior, a perseguição começa na família e igreja, se estende a escola e se prolonga na vida adulta, são pessoas que acabam tendo muito mais dificuldade para conquistar seu espaço. Enfrentam burocracia para mudança de nome e de gênero nos documentos, agressões físicas e psicológicas e dificuldade para conseguir empregos, levando muitos a enveredar pelo caminho da prostituição, aumentando ainda mais a estigmatização.

Sendo, como declarou, amigo dela, Romário deveria ter sido mais cuidadoso com a forma de se referir, ele não é obrigado a se envolver com ninguém, mas é necessário que ele entenda que não é o sexo biológico que determina a forma como uma pessoa deve ser reconhecida, mas seu o gênero com aquela pessoa se identifica. Assim, uma pessoa que biologicamente nasceu homem, mas se identifica com o gênero feminino deve ser reconhecido como do sexo oposto ao de nascimento, se assim achar melhor. É bom lembrar que isso não tem relação com a orientação sexual da pessoa. Ao dizer que gosta é de mulher, ele não está só negando um relacionamento com uma pessoa, o que não seria censurável sob o ponto de vista da livre escolha, mas também está lhe negando o reconhecimento de gênero, reconhecimento que é caro para essa parcela da sociedade.

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